O Pará foi declarado nacionalmente livre da febre aftosa, a partir da publicação de uma portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (25). Para a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) o novo status possibilita ao estado um aumento no “valor agregado” do rebanho e economia aos produtores, além de perspectivas de abertura de mercados “mais exigentes”.
Atualmente, o rebanho paraense - o segundo maior do país - é formado por mais de 26 milhões de animais. “Falamos em termos de sanidade animal, assim como de valor agregado ao nosso rebanho, e ainda de economia para os produtores em cifras de milhões, que deixam de ter custos com as vacinas. Ou seja, todos ganham quando tomamos as medidas corretas para termos animais no campo com saúde e bem estar”, avalia o presidente da Faepa, Carlos Xavier.
Conforme a portaria, ficará suspensa a vacinação contra a doença no estado a partir de 2 de maio. A compra de novos animais para expansão do rebanho nos estados reconhecidos como livres de febre aftosa sem vacinação também está vedada, assim como o comércio de animais entre esses estados. Essas restrições permanecerão até que a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) oficialize o status sanitário livre de febre aftosa sem vacinação.
Certificação internacional é o próximo passo
A mobilização agora gira em torno da certificação internacional e da última campanha de vacinação do rebanho paraense, que foi antecipada devido à medida de suspensão da vacina. A vacinação envolvendo bovinos e bubalinos de todas as idades ocorrerá entre durante todo o mês de abril, entre os dias 1º e 30, sem prorrogação. A Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) orienta que a declaração da vacinação deve ser comprovada até o dia 15 de maio.
A médica veterinária e diretora do Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Estado do Pará (Fundepec), Rosirayna Remor, explica o protocolo: os produtores devem isolar os animais que foram escolhidos para a realização da sorologia, mantendo-os afastados dos demais. Esses animais não poderão ser vendidos ou transportados até que os resultados dos exames laboratoriais estejam disponíveis. “Essa medida é crucial para garantir o sucesso da sorologia”, diz.
Rosirayna acrescenta que todos os animais devem ser vacinados após a esta fase de isolamento, exceto aqueles do Marajó e os envolvidos diretamente no estudo iniciado em março. A pesquisa feita em 102 propriedades de 55 municípios paraenses, selecionadas pelo Mapa para testar a ausência de circulação viral, teve justamente o objetivo de validar o novo status sanitário do estado, como Zona Livre de Aftosa Sem Vacinação.
Além do Pará, os estados do Amapá, do Amazonas, da Bahia, do Espírito Santo, de Goiás, do Maranhão, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, do Piauí, do Rio de Janeiro, de Roraima, de São Paulo, de Sergipe, do Tocantins e o Distrito Federal também foram reconhecidos como livres da febre aftosa sem vacinação através da Portaria nº 665, de 21 de março de 2024, publicada nesta segunda.
Mesmo com impacto positivo, cenário é desafiador
Guilherme Minssen, diretor da Faepa, analisa que, apesar de “extremamente positivo e bastante necessário”, o novo status não deve trazer benefícios a curto prazo em relação à valorização de preço e abertura de novos mercados, ainda que seja possível vislumbrar. “O Pará fez todas as notas e, principalmente, todas as ações para chegar e alcançar esse status. O impacto é positivo, mas estamos cientes de que existem outros fatores que impactam nisso a curto prazo”, diz.
Minssen acrescenta que Pará enfrenta um período desafiador com os menores preços de carne registrados recentemente, impactando significativamente os produtores rurais. Para ele, a “defasagem” do preço da arroba e do quilo pago ao produtor rural é uma grande preocupação. Apesar das esperanças de que a melhoria do status sanitário em relação à febre aftosa pudesse influenciar positivamente o mercado, isso não se concretizou em experiências passadas.
“O Pará tem a carne mais barata para os pecuaristas do Brasil, nós pagamos os menores valores possíveis, principalmente em todo o Baixo Amazonas e Arquipélago do Marajó, preços até irrisórios, e o Brasil tem a carne mais barata do planeta; portanto, hoje somos procurados para a venda de boi vivo e venda de boi e não é por outro motivo não, porque aqui a carne é muito barata para a compra dessas indústrias frigoríficas”, analisa Minssen.
Erradicação já abriu portas para mercados mais exigentes
Ele recorda que a mobilização pela erradicação da febre aftosa é fruto de uma mobilização coletiva que teve início no final da década de 80 e início da década de 90, época em que ainda não existiam a Adepará e o Fundepec. A iniciativa partiu de produtores rurais, especificamente de sete criadores, que formaram um grupo que ficou conhecido como G7. Eles começaram uma campanha financiando os primeiros esforços do próprio bolso, com assessores da Faepa.
“Esse início merece destaque, pois foi crucial para chegarmos ao ponto atual. Os próprios produtores financiaram o trabalho de combate à aftosa. Houve muito esforço e conscientização, mostrando que a aftosa não causa apenas danos ao setor da saúde, mas também impacta a questão financeira, especialmente nas exportações, abrindo portas para mercados mais exigentes”, defende o zootecnista.
Por: Amanda Engelke/O liberal
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